sábado, 23 de julho de 2011

Que cores compõem as suites de Johann Sebastian Bach?

Recentemente o Dr. Jamie Ward do University College London, um dos especialistas mundiais sobre o tema, estudou este cruzamento entre sentidos para o caso da vista e do ouvido.

Aparentemente no nosso cérebro o ouvido e a visão estão inextrincavelmente interligados, mas só os sinestésicos, que padecem ou desfrutam (dizem apreciar positivamente a sua sinestesia), desta rara condição estão conscientes disso.

Os resultados mostram que muitos de nós preferem imagens e sons combinados em vez de cada um para seu lado. Além disso tendemos a estar de acordo sobre que tipo de som combina com uma imagem ou que música combina com uma determinada cena cinematográfica.

Isto poderia ter implicações na forma como entendemos a arte e como desenvolvemos formas de modo que combinam imagens visuais com som, como por exemplo o balet, a ópera…

Ward utilizou a arte abstrata das pinturas de Kandisky e peças musicais interpretadas por uma orquestra para estudar o fenómeno. Esperava que essas pinturas pudessem ser ouvidas por uma audiência especial composta por sinestésicos.
Segundo Ward, apesar das informações procedentes do mundo entrarem nas nossas cabeças através de diferentes órgãos sensoriais, uma vez chegados ao cérebro, os diferentes tipos de informação interligam-se intimamente.

Surprendentemente estão ligados em caminhos não aleatórios e, por isso, certas combinações de sons e imagens são melhores que outras.

É também assombroso que mesmo que as diferentes áreas cerebrais, encarregadas de processar a informação dos diferentes sentidos, estejam muito afastadas umas das outras, ainda assim nestes casos estão relacionadas.

Assim, nos scanners RMN pode ver-se como nos cérebros dos sinestésicos duas dessas áreas correspondentes a diferentes sentidos (como vista e ouvido) se activam simultaneamente frente a um só estímulo procedente de só um dos sentidos.

Numa das experiências realizadas Ward pediu a seis sinestésicos que desenhassem e descrevessem as suas experiências visuais quando ouviam música interpretada pela New London Orchestra. Outro grupo de controlo de pessoas sem esta condição fez o mesmo.

Uns vídeos criados por um profissional da animação combinavam a música e os desenhos de ambos os grupos. Estes foram mostrados ao público que visitava o museu da ciência da cidade.

Centenas de imagens foram vistas por aproximadamente 200 pessoas que andavam pelo lugar e às que se lhes pediu escolher aquelas que estavam em melhor sintonia com a música.

As animações escolhidas correspondiam àquelas desenhadas pelos sinestésicos. Isto demonstra que enquanto que as pessoas sem sinestesia não são capazes de ouvir uma pintura ou ver uma passagem musical em sentido literal, são, no entanto, capazes de sentir o entrecruzamento e escolhem a imagem “correcta”.

As experiências com as pinturas também foram interessantes. Um sinestésico descrevia a composição VIII de Kandinsky (ver imagem) da seguinte maneira: A confusão de volumes de linhas produzia vários tons que mudava quando os meus olhos viajavam sobre a pintura. Quando olhava o poderoso círculo multicor em cima à esquerda ouvia um tom puro que podia ser muito intenso e, para aliviar a minha mente desta viagem, voltava à cacofonia das linhas enredadas e às sombras. Esta pintura portanto tinha um bom equilíbrio de contraste de sons (tons puros e cacofonias) que era delicioso de ver. Quanto mais olhava a pintura mais apreciava a imagem como música.

Enquanto alguns sinestésicos podem literalmente ouvir as pinturas de Kandinsky (crê-se que este pintor era também sinestésico), o resto de nós não tem esse cruzamento de sentidos tão intenso.

Mas a investigação demonstra que todos nós, inclusive mesmo não nos dando conta, temos ligações entre a vista e o ouvido. Os sinestésicos simplesmente têm-no muito apurado.

Dr. Ward espera que ao entendermos a sinestesia sejamos capazes de compreender melhor como os nossos sentidos se entrecruzam no nosso cérebro e nos ajude a entender melhor certos tipos de arte.

A próxima passagem de Ward nesta investigação será fazer o scanner do cérebro nos sinestésicos para ver o que acontece quando, ao contemplar as pinturas de Kandinsky, se fizerem ouvir os sons e vice-versa.

6% dos artistas são sinestésicos, uma percentagem muito superior à média que é de 1%.

Vilayanur S. Ramachandran, outro grande perito na matéria, mas de UC San Diego, afirma que a base da criatividade, como a criatividade literária, provém da sinestesia e que o uso das metáforas é uma prova muito clara disso.

Por isso Shakespeare pôde criar conceitos como bitter cold ou imagens como this music creeps me upon the water, passagens evocadas por Tim Carrol.

Ao entrecruzar pensamentos diferentes de distintas partes do cérebro podemos criar novas ideias e ser criativos. Desse modo a sinestesia não só cruzaria sentidos, mas além disso conceitos.

Ramachandran vai mais além e sugere que inclusive a origem da linguagem se deveu a essas conexões sinestésicas.

Pode acontecer que a sinestesia esteja a abrir novas janelas aos grandes mistérios que ainda cobrem algumas das capacidades mais propriamente humanas do nosso cérebro.


fonte:http://doc.jurispro.net/articles.php?lng=pt&pg=4414

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