Abertura de arquivos secretos revela
que o maior cientista do século XX foi
vigiado sem trégua por 22 anos
Desde o momento em que pisou nos Estados Unidos, em 1933, até sua morte, em 1955, Albert Einstein, o maior cientista do século XX, foi vigiado pelo FBI, a polícia federal americana. Durante essas duas décadas, seus agentes escarafuncharam a vida do cientista, leram sua correspondência, reviraram sua lata de lixo e ouviram seus telefonemas. J. Edgar Hoover, diretor-geral do órgão entre 1924 e 1972, estava convicto de que Einstein se valia de seu prestígio para promover o comunismo e passar segredos militares à União Soviética. Uma versão censurada dos arquivos do FBI sobre Einstein já era conhecida desde os anos 80. Mas agora, com a liberação do conteúdo integral dos arquivos, tem-se a dimensão real do enorme esforço dispensado pela polícia federal americana à vigilância do cientista – e, como costuma acontecer quando se abrem os arquivos acumulados sobre a vida de personalidades nos Estados Unidos durante o período em que o órgão foi comandado pelo paranóico Hoover, tudo o que se vê são informações inúteis e acusações sem provas.
Páginas do arquivo de Einstein no FBI: lixo revirado
Os arapongas americanos primeiro se empenharam em provar que o cientista tinha sido espião russo em Berlim antes da II Guerra (seus informantes acabaram sendo desmascarados como vigaristas ou simplesmente sumiram do mapa). Depois tentaram em vão encontrar indícios de traição em sua militância pacifista e humanitária. Por fim, descambaram para o desvario de achar que ele trabalhava no desenvolvimento de um "raio da morte" e encabeçava uma conspiração comunista para dominar Hollywood. As 1.427 páginas do arquivo do FBI sobre Einstein foram liberadas por força de uma medida judicial movida pelo jornalista Fred Jerome, que neste mês lança nos Estados Unidos o livro O Arquivo Einstein: A Guerra Secreta de J. Edgar Hoover contra o Cientista Mais Famoso do Mundo. "As investigações da vida de Einstein eram tantas e tão banais que viraram rotina no FBI", disse Jerome numa entrevista ao The New York Times. "O detalhe é que nunca encontraram nada contra ele." Mesmo assim, o FBI continuou a seguir seus passos até o dia de sua morte. E ainda ajudou o serviço de imigração a investigar se havia razões para deportá-lo dos Estados Unidos.
Não é difícil entender por que Einstein despertou a atenção de Hoover. As simpatias políticas do cientista eram realmente dúbias. Condenava o stalinismo, mas em algumas ocasiões manifestou simpatia pelas conquistas soviéticas. Durante a II Guerra, em plena corrida nuclear, tornou-se um porta-voz do movimento pacifista, que em muitos casos servia de fachada para os interesses do regime soviético. O fato é que seu pacifismo era sólido e coerente. Em 1894, com apenas 15 anos, deixou a Alemanha, sua terra natal, por discordar da militarização do país, para o qual só voltou às vésperas da I Guerra. A primeira denúncia formal contra Einstein nos arquivos americanos é uma carta enviada ao Departamento de Estado por uma organização de mulheres conservadoras, em 1932. No texto de dezesseis páginas, elas afirmam ser necessário impedir a entrada do cientista nos Estados Unidos porque "nem mesmo Stalin foi afiliado a tantos grupos anarquistas e comunistas". No ano seguinte, depois que Adolf Hitler subiu ao poder na Alemanha, Einstein mudou-se definitivamente para os Estados Unidos e foi trabalhar no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Princeton. Foi seguido pelo FBI desde o momento em que pisou no país.
Apesar de seu pacifismo, no começo da II Guerra Einstein escreveu ao presidente Franklin Roosevelt advertindo que armas atômicas eram possíveis e que Hitler tinha acesso à tecnologia da bomba. A carta ajudou a desencadear o Projeto Manhattan, a operação supersecreta que resultou na bomba A. Mas Einstein não foi convidado a participar. Só foi convocado para um projeto menor da Marinha, envolvendo explosivos, em 1943, do qual foi consultor. Dadas as circunstâncias, o FBI não tinha outra opção a não ser investigar Einstein, como fazia com qualquer cientista envolvido com a indústria armamentista. No seu caso, porém, a polícia ia bem além do dever. Em 1940, mostram os arquivos, Hoover teve em mãos um sumário das atividades pacifistas e esquerdistas de Einstein e uma espécie de biografia que os historiadores suspeitam ter sido influenciada por fontes nazistas alemãs. O documento descreve o escritório do cientista em Berlim no começo dos anos 30 como um "centro comunista". Einstein nem sequer teve um escritório em Berlim.
A vigilância incluía Helen Dukas, sua secretária desde 1928. O FBI acreditava que as secretárias e datilógrafas de Einstein selecionavam mensagens codificadas dos telegramas para o cientista e as repassavam para Moscou. Vencidos os nazistas, começou a Guerra Fria e a paranóia de Hoover tornou-se ainda mais intensa. Na lista de investigados no período de Hoover figuravam Ernest Hemingway, Charlie Chaplin e até a revista Playboy (veja quadro abaixo). No início dos anos 50, Hoover pediu pessoalmente que fosse ampliada a espionagem sobre Einstein. Já havia contra ele o fato de ter apoiado causas como a campanha de libertação do casal Rosenberg, condenado à morte sob a acusação de passar segredos militares à União Soviética. Também pesava o fato de ter amigos fichados como agentes comunistas infiltrados. Entre eles estava a russa Margarita Konenkova. Só no final dos anos 90 se confirmou que Einstein e Konenkova tinham sido amantes.
que o maior cientista do século XX foi
vigiado sem trégua por 22 anos

Páginas do arquivo de Einstein no FBI: lixo revirado
Os arapongas americanos primeiro se empenharam em provar que o cientista tinha sido espião russo em Berlim antes da II Guerra (seus informantes acabaram sendo desmascarados como vigaristas ou simplesmente sumiram do mapa). Depois tentaram em vão encontrar indícios de traição em sua militância pacifista e humanitária. Por fim, descambaram para o desvario de achar que ele trabalhava no desenvolvimento de um "raio da morte" e encabeçava uma conspiração comunista para dominar Hollywood. As 1.427 páginas do arquivo do FBI sobre Einstein foram liberadas por força de uma medida judicial movida pelo jornalista Fred Jerome, que neste mês lança nos Estados Unidos o livro O Arquivo Einstein: A Guerra Secreta de J. Edgar Hoover contra o Cientista Mais Famoso do Mundo. "As investigações da vida de Einstein eram tantas e tão banais que viraram rotina no FBI", disse Jerome numa entrevista ao The New York Times. "O detalhe é que nunca encontraram nada contra ele." Mesmo assim, o FBI continuou a seguir seus passos até o dia de sua morte. E ainda ajudou o serviço de imigração a investigar se havia razões para deportá-lo dos Estados Unidos.
Não é difícil entender por que Einstein despertou a atenção de Hoover. As simpatias políticas do cientista eram realmente dúbias. Condenava o stalinismo, mas em algumas ocasiões manifestou simpatia pelas conquistas soviéticas. Durante a II Guerra, em plena corrida nuclear, tornou-se um porta-voz do movimento pacifista, que em muitos casos servia de fachada para os interesses do regime soviético. O fato é que seu pacifismo era sólido e coerente. Em 1894, com apenas 15 anos, deixou a Alemanha, sua terra natal, por discordar da militarização do país, para o qual só voltou às vésperas da I Guerra. A primeira denúncia formal contra Einstein nos arquivos americanos é uma carta enviada ao Departamento de Estado por uma organização de mulheres conservadoras, em 1932. No texto de dezesseis páginas, elas afirmam ser necessário impedir a entrada do cientista nos Estados Unidos porque "nem mesmo Stalin foi afiliado a tantos grupos anarquistas e comunistas". No ano seguinte, depois que Adolf Hitler subiu ao poder na Alemanha, Einstein mudou-se definitivamente para os Estados Unidos e foi trabalhar no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Princeton. Foi seguido pelo FBI desde o momento em que pisou no país.
Apesar de seu pacifismo, no começo da II Guerra Einstein escreveu ao presidente Franklin Roosevelt advertindo que armas atômicas eram possíveis e que Hitler tinha acesso à tecnologia da bomba. A carta ajudou a desencadear o Projeto Manhattan, a operação supersecreta que resultou na bomba A. Mas Einstein não foi convidado a participar. Só foi convocado para um projeto menor da Marinha, envolvendo explosivos, em 1943, do qual foi consultor. Dadas as circunstâncias, o FBI não tinha outra opção a não ser investigar Einstein, como fazia com qualquer cientista envolvido com a indústria armamentista. No seu caso, porém, a polícia ia bem além do dever. Em 1940, mostram os arquivos, Hoover teve em mãos um sumário das atividades pacifistas e esquerdistas de Einstein e uma espécie de biografia que os historiadores suspeitam ter sido influenciada por fontes nazistas alemãs. O documento descreve o escritório do cientista em Berlim no começo dos anos 30 como um "centro comunista". Einstein nem sequer teve um escritório em Berlim.
A vigilância incluía Helen Dukas, sua secretária desde 1928. O FBI acreditava que as secretárias e datilógrafas de Einstein selecionavam mensagens codificadas dos telegramas para o cientista e as repassavam para Moscou. Vencidos os nazistas, começou a Guerra Fria e a paranóia de Hoover tornou-se ainda mais intensa. Na lista de investigados no período de Hoover figuravam Ernest Hemingway, Charlie Chaplin e até a revista Playboy (veja quadro abaixo). No início dos anos 50, Hoover pediu pessoalmente que fosse ampliada a espionagem sobre Einstein. Já havia contra ele o fato de ter apoiado causas como a campanha de libertação do casal Rosenberg, condenado à morte sob a acusação de passar segredos militares à União Soviética. Também pesava o fato de ter amigos fichados como agentes comunistas infiltrados. Entre eles estava a russa Margarita Konenkova. Só no final dos anos 90 se confirmou que Einstein e Konenkova tinham sido amantes.
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